quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Ações da Petrobras caem, mas ainda são opção melhor do que o FGTS e a poupança

Trabalhadores que investiram parte do saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em ações da Petrobras, em 2000, não devem se desfazer do investimento agora, apesar da baixa rentabilidade dos últimos meses. Esse é o conselho de especialistas, que alertam para o fato de que a aplicação ainda rende bem mais do que o FGTS parado na Caixa Econômica Federal ou a caderneta de poupança, apesar de os papéis da estatal terem perdido valor recentemente (somente na segunda-feira, a queda foi de 11%). Cálculos do Instituto FGTS Fácil mostram que quem manteve o dinheiro investido na Petrobras ganhou 208,73% a mais do que aquele que deixou os recursos no fundo, nos últimos 14 anos.

Quem investiu R$ 15 mil nas ações e manteve a aplicação nesses 14 anos, hoje tem R$ 60.069, enquanto aqueles que não investiram acumularam R$ 28.759,50 no FGTS (confira ao lado algumas simulações).
O valor das ações já havia sofrido impacto em 2008, na época da crise econômica mundial. Agora, somados às incertezas do momento eleitoral, fatores relacionados à administração da estatal afetam o desempenho da empresa na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Além da denúncia de irregularidades na aquisição de uma refinaria em Pasadena, nos Estados Unidos, que veio à tona este ano, recentemente surgiu a deleção premiada de um ex-diretor da companhia, que apontou senadores, deputados e governadores num esquema de corrupção. Eles teriam recebido 3% dos contratos assinados pela Petrobras de 2004 a 2012.
Há, também, a insatisfação de investidores em relação ao controle dos preços dos combustíveis. Tudo isso afeta a performance da companhia no mercado financeiro.
Apesar do cenário negativo, Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora, diz o trabalhador não deve tomar como parâmetro as últimas variações de rendimento.
— É um fato que a Petrobras, hoje em dia, está sofrendo uma fortíssima volatilidade (quando o preço da ação se distancia muito da média), em função da questão eleitoral. Mas é um ponto fora da curva. A tendência é que a volatilidade diminua e, com isso, também o risco das operações.
Mário Avelino, presidente do Instituto FGTS Fácil, não recomenda a venda, apesar da perda dos últimos meses
— O momento certo de se desfazer delas é somente aquele em que o trabalhador pode sacar o fundo, como no caso de demissão (sem justa causa) ou para a compra de um imóvel. Aí, vale a pena. É importante destacar que o dinheiro do trabalhador atualmente parado no FGTS está sendo confiscado pelo governo devido à TR (Taxa Referencial), que é usada para fazer a correção monetária do fundo, mas está próxima de 0%. De julho de 1999 até setembro deste ano, o governo deixou de creditar (aos trabalhadores) R$ 218 bilhões, uma perda de 105,83% (devido à inflação do período, que corroeu o rendimento do fundo, de apenas 3%).
Queda mensal, alta anual
Segundo a Bolsa de Valores de São Paulo, somente ontem, a ação PETR3 incluída no leilão da Petrobras — promovido há 14 anos — desvalorizou 2,82%. Considerando todo o mês de setembro, a queda foi de 22,09%. No entanto, no acumulado deste ano, o papel teve um ganho acumulado de 11,73%. Apesar de o percentual ser considerado bom, as ações estão longe de ter o desempenho de anos anteriores.
Mario Avelino, pesidente do Instituto FGTS Fácil, desaconselha a venda neste momento
Mario Avelino, pesidente do Instituto FGTS Fácil, desaconselha a venda neste momento Foto: Agência O Globo
— As ações chegaram a render 2.400%, como em maio de 2008 (percentual acumulado desde o início da aplicação, em agosto de 2000), antes da crise imobiliária americana. Mas o mercado de ações é muito volúvel. O trabalhador só deve vender suas ações quando puder sacar o FGTS — explicou Mario Avelino, presidente do Instituto FGTS Fácil.
Raphael Figueredo, da Clear Corretora, destacou que quem investe em ações, geralmente, tem um perfil de investimento de longo prazo e, por isso, não tem motivos para se apressar em retirar o dinheiro, mesmo com o cenário mais recente de desvalorização.
— Investidores já previram momentos piores, como na crise de 2008 ou no período de junho e julho do ano passado. Tudo bem, (a ação) saiu de R$ 24 e, agora, custa R$ 18. Mas, por outro lado, o papel já saiu de R$ 12 e foi para R$ 24 — comparou o analista.
Segundo os especialistas não há como prever como as ações da empresa vão se comportar daqui pra frente, porque o mercado financeiro depende de vários fatores. No caso da Petrobras, de decisões do governo.
OS FATOS: COMO ACONTECEU O LEILÃO
Oferta e procura
Em julho de 2000, o governo federal autorizou que R$ 3,4 bilhões dos saldos das contas de FGTS fossem usados para a compra de ações da Petrobras, por meio de leilão (em agosto). Mas apenas a metade — R$ 1,7 bilhão — foi usada por 310 mil trabalhadores na compra dos papéis.
Desconto
Na época, o trabalhador comprou as ações com 20% de desconto: cada uma custou R$ 34,46, O valor no mercado financeiro era de R$ 43,07.
Regras
O governo estabeleceu regras para a aquisição dos papéis, no leilão: permitiu ao trabalhador aplicar, no máximo, 50% do FGTS, desde que o saldo mínimo no fundo fosse de R$ 600.
Ações
No decorrer dos anos, por decisões da diretoria da empresa, cada ação comprada foi desdobrada em oito (ações filhotes). Quando se desfaz do investimento, o trabalhador não pode retirar o dinheiro. O montante retorna para a conta de FGTS.
Vale
Em 2002, houve outro leilão, com ações da Vale.
Fonte: Extra

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