quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Escândalos da Petrobras prejudicam quem usou FGTS para investir na companhia

Fundos mútuos de privatização da Petrobras já perderam quase 80% dos cotistas. Quando o governo vendeu as ações da petrolífera, 310 mil pessoas aplicaram até 50% do que tinham no FGTS nesses fundos.

SÃO PAULO - Desde que foram criados em agosto de 2000, os fundos mútuos de privatização da Petrobras já perderam quase 80% dos cotistas que colocaram parte de seus recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) nessas aplicações. Quando o governo vendeu as ações da petrolífera, 310 mil pessoas aplicaram até 50% do que tinham no FGTS nesses fundos. Em janeiro deste ano, eram apenas 65,5 mil cotistas, com recursos distribuídos em 42 fundos deste tipo, e um patrimônio de R$ 1,17 bilhão. A indústria de fundos de investimento tem atualmente R$ 2,3 trilhões em recursos aplicados e o patrimônio dos cotistas dos fundos FGTS/Petrobras representa apenas 0,04% dessa indústria.

Os números são Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e do Instituto Fundo Devido ao Trabalhador. O presidente do Instituto Fundo Devido ao Trabalhador, Mario Avelino, afirma que o patrimônio desses fundos vem encolhendo ao longo dos anos porque muita gente sacou o dinheiro para comprar a casa própria, aproveitando o retorno de mais de 1.000% que eles chegaram a oferecer, e também pela perda de valor das ações, especialmente no último ano, depois das denúncias de escândalos envolvendo a estatal. Em 2008, por exemplo, quando a rentabilidade dessas aplicações chegou a 1.346,31%, em maio, o maior retorno obtido até hoje, quase 8 mil pessoas sacaram seus recursos.

Foto: Reprodução G1 - 22/01/2014
- Quem deixou o recurso no FGTS, neste período, perdeu dinheiro - diz Avelino.
No ano passado, com a perda de valor de 37% dos papéis da Petrobras e uma rentabilidade negativa de 38,6% destes fundos, 3,8 mil pessoas sacaram seus recursos destas aplicações. Foi menos do que em 2013 e 2012, quando 4,6 mil e 5,8 mil pessoas sacaram seus recursos, respectivamente. De acordo com analistas, quem optar por retirar o dinheiro dos fundos neste momento de baixa dos papéis da Petrobras vai 'realizar o prejuízo', como se diz no jargão do mercado financeiro.

- O dinheiro sacado volta para a conta do FGTS, se não for usado para compra do imóvel, e rende 3% ao ano mais taxa referencial (TR). É até menos do que a poupança - diz Avelino.

Nestes quase 15 anos, os fundos FGTS Petrobras tiveram uma rentabilidade de 178,73%, segundo um levantamento da consultoria Economárica, com base em números da Anbima. É um ganho real de 12,63% sobre o IPCA registrado no período, que foi de mais de 144%. Ou seja, quem aplicou R$ 1 mil num fundo FGTS Petrobras na época de sua criação tem hoje R$ 2.787,30. No mesmo período, se o dinheiro tivesse ficado aplicado na conta do FGTS, teria rendido 94,30% e os mesmos R$ 1 mil valeriam R$ 1.942,98. Nos mesmos 15 anos, as ações da Petrobras tiveram uma valorização de 107,77%

Mario Avelino lembra que houve dois desdobramentos nas ações da Petrobras, durante este período. Portanto, cada ação comprada em 2000, hoje equivale a oito. Ele lembra que houve desconto de 20% na compra dos papéis para quem usou recursos do FGTS na aplicação, o que melhorou o retorno. Além disso, a incorporação pelos fundos dos juros sobre capital próprio e dos dividendos, explicam, a diferença de rendimentos entre os fundos e as ações da Petrobras.


Segundo os números obtidos pela Economática na Anbima, o maior patrimônio alcançado por esses fundos foi de R$ 11,4 bilhões, dividido entre 104,5 mil cotistas, em maio de 2008. De lá, até agora, esse valor se reduziu 89,73%. Naquele mês, o patrimônio por investidor era de R$ 109,1 mil, e caiu para R$ 17,9 mil por cotista neste mês de janeiro.

Para o estrategista e sócio da Queluz Asset Management, Maurício Pedrosa, a decisão de manter ou não os recursos nos fundos FGTS Petrobras, atualmente, depende do risco que o investidor está disposto a correr. Para ele, nada impede que o valor das ações da petrolífera (hoje na casa dos dos R$ 8) caia até R$ 5, dependendo de como se desenrolarem as investigações da Operação Lava Jato, que apura desvios de recursos da estatal. Mas uma troca de diretoria, com um nome bem cotado pelo mercado para dirigir a petrolífera, e a possibilidade de a empresa voltar a fixar os preços de combustíveis, pode reverter o quadro de pessimismo dos investidores com os papéis da companhia.

- Cada investidor deve avaliar o risco que está disposto a correr neste momento. Nada impede que a ação recue mais, mas uma maré de notícias boas pode reverter essa onda de pessimismo do mercado. É preciso ter em mente que o recurso sacado do fundo, se não for usado para a compra de um imóvel, terá uma rentabilidade bem abaixo da média do mercado - diz Pedrosa.




Fonte: globo.com | G1 
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